Artigos / Caiubi Kuhn

10/09/23 às 11:51

O novo e o velho Mato Grosso


         Entre as obras realizadas pelo governador Mauro Mendes, o Parque Novo Mato Grosso com certeza é uma das mais ousadas. Situado na MT 251, que liga Cuiabá a Chapada dos Guimarães, o parque irá contar com uma ampla estrutura para realização de eventos automotivos, shows e outros tipos de atividades. Em contraste ao investimento no Novo Mato Grosso, importantes patrimônios do velho Mato Grosso, que contam a história do estado, como a Usina Itaicy em Santo Antônio do Leverger, e a Usina Casca I e o Chalé dos Governadores em Chapada dos Guimarães, caminham no ritmo dado pela deterioração do tempo, para se tornarem apenas ruínas postas ao chão de um passado de glória distante.

         Para a historiadora Emília Viotti da Costa, "Um povo sem memória é um povo sem história.  E um povo sem história está fadado a cometer, no presente e no futuro, os mesmos erros do passado." Um povo sem história acaba por não entender como chegou ao local que está. Ou seja, fica, sem entender como o seu entorno foi formado.

       No estado, existem importantes construções que marcam alguns momentos e acontecimentos históricos. Em Chapada dos Guimarães, o Santuário de Sant’Ana, construído em 1779, é um registro fantástico do período barroco, porém que precisa de restauro para manter sua imponência e registro histórico. Outros locais como a Usina Casca I, primeira usina hidroelétrica a produzir energia para abastecer a população de Cuiabá em 1928, e o Chalé dos Governadores, residência de campo dos governadores, durante cerca de 8 décadas, estão a cada dia se aproximando mais do destino trágico de se tornarem apenas ruínas.

          Outro caso que merece ser elencado é a Usina Itaicy, construída no final do século 19, por Antônio Paes de Barros, o ex-governador do estado Totó Paes. O local chegou a abrigar uma população de cerca de cinco mil pessoas, tinha moeda própria e uma ampla estrutura, com farmácia, escola, capela, entre muitas outras benfeitorias. Um verdadeiro registro da revolução industrial em solo mato-grossense. Porém, ao que tudo parece, também caminha para um destino trágico.

          O Parque Novo Mato Grosso pode contribuir para o turismo na região e é uma obra relevante, com investimentos previstos de cerca de 150 milhões. Mas será que não seria importante o Governo do estado ter olhos para o velho Mato Grosso também? As construções históricas citadas também são importantes para o turismo, para a cultura e para a história. Os registros contados por elas ajudam a contar como o estado chegou aonde está hoje. Podemos ir muito mais além e debater a deterioração de centros históricos, casarões antigos e outros locais onde foram cunhadas as raízes do estado.

        O fato é que a história precisa ser valorizada com políticas públicas e investimentos que permitam preservar o passado, para aqueles que virão no futuro, conciliando desenvolvimento do novo Mato Grosso, com as memórias e sentimentos que são contadas pelas paredes antigas e esquecidas, das quase ruínas que registram o passado do velho Mato Grosso.
Caiubi Kuhn

Caiubi Kuhn

Caiubi Kuhn é Geólogo, Doutor em Geociência e Meio Ambiente (UNESP), Professor na UFMT e Presidente da Federação Brasileira de Geólogos (FEBRAGEO)




 
ver artigos

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet